Tarefa 6 - Amanda
Processo criativo da videoperformance “A descoberta de si em outre e de outre em si”
A proposta deste processo criativo deveria partir da escolha de uma personagem com a
qual nos identificássemos de alguma forma, podendo ser personagem de peça teatral, livro,
conto, histórica ou de qualquer outro tipo. Escolhi então a personagem Viúva, da peça
“Agreste, Malva-rosa”, de Newton Moreno.
Link 1: Texto “Agreste, Malva-rosa”, de Newton Moreno.
https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/viewFile/57140/60128
Resumindo brevemente a história da viúva, ela é uma mulher nordestina casada há 22 anos. Quando seu marido Etevaldo morre, ela precisa de ajuda para vesti-lo para o funeral. Quando as mulheres da pequena cidade vão ajudá-la, percebem que seu marido é uma mulher. A cidade se enfurece e coloca fogo na casa com a Viúva ainda viva.
Nota-se aqui, que Etevaldo também poderia ser uma pessoa transmasculina, uma vez que não há no texto nenhuma especificação quanto a isso, apenas ao gênero atribuído a ele ao nascer. Tomo a liberdade de trabalhar aqui com o conceito de gênero atribuído a ele através dos habitantes da pequena cidade do interior uma vez que é o que interfere e reverbera nas atitudes e emoções da Viúva, não excluindo outras possibilidades. A cidade, portanto, repete insistentemente que Etevaldo é mulher e que o casamento deles é errado, independentemente se isso é verdade ou não.
Agosto 2020:
A proposta aqui é estabelecer qual seria o momento de mudança da personagem. Percebo que o grande momento de transformação da Viúva é quando ela se despe e se olha no espelho, logo antes de beijar Etevaldo e esperar o fogo tomar a casa por completo. Nesse momento, vejo uma grande percepção da personagem ligada a seu corpo e a relação que ele tem com o gênero a ela atribuído. O narrador do texto coloca que, nesse momento, ela “Descobriu então o que era mulher.”, uma vez que ela nunca tinha visto o próprio corpo nu, nunca tinha entendido o que é gênero, o que é sexo biológico e muito menos pensado nas diferenças e associações que podem ser feitas e descontruídas entre esses dois conceitos. De fato, ela percebe as características do sexo biológico feminino naquele momento e entende que aquilo é o que as pessoas chamam popularmente de “mulher”.
A segunda percepção que vejo na personagem vem a partir dessa: ela gosta do que vê. A partir disso, uma terceira: se isso que ela vê é uma mulher e Etevaldo é uma mulher (o que tanto falam), ela não se importa, pois iria gostar do mesmo jeito. Imediatamente, ela beija Etevaldo, coisa que nunca havia feito antes, e abre os olhos no meio do beijo.
Foto 1: Painel imagético da personagem* (ao final do texto)
Setembro 2020: exercício com objeto
Seguindo com o nosso processo, na produção do vídeo, há um prato translúcido, posicionado em frente à câmera, que serve como filtro para algumas imagens gravadas. Esse prato surge em um dos exercícios que fizemos, o qual envolvia a escolha de algum objeto que pudéssemos associar à personagem. Eu escolhi um prato de vidro azul claro, inicialmente porque me lembrava cidades do interior e me remetia a duas passagens do texto em que a Viúva come cuscuz. A partir da minha interação com o objeto e dos feedbacks, esse prato foi se transformando em um espelho, sendo relacionado ao momento de transformação da personagem. Experimentei, portanto, a dualidade entre imaginação e realidade com a utilização do prato em frente à câmera. O prato seria, não o espelho, mas esse portal pra outras dimensões do real. A câmera, no caso, seria o espelho. Determinei, portanto, que colocaria as imagens do que se passa na realidade sem o filtro (prato) e as imagens do que é imaginação com ele.
Outubro 2020: criação da coreografia e primeira versão do vídeo
Posteriormente, no dia 20/10 fizemos em aula um exercício no qual deveríamos escolher um
objeto e realizar uma ação cotidiana com ele. A partir disso, deveríamos alterar uma ou mais
características do movimento e deixar que a ação nos levasse a uma dança. Eu escolhi um
casaco com zíper e ao realizar o exercício a partir da ação de tirar o casaco, obtive uma
coreografia que mantive até o vídeo final.
Vídeo 1: Exercício com objeto (eu jurava que tinha esse vídeo! deve ter sido uma gravação da aula que eu não salvei, mas em processos criativos futuros vou me atentar mais a isso)
Vídeo 2: Primeira versão do vídeo
https://youtu.be/Db1DNzHkWSo
Novembro 2020: produção da versão final do vídeo
Para a versão final, escolhi trabalhar com dois momentos do texto que se relacionam: a descoberta do próprio corpo e o toque no corpo do outro, relacionando ambos a partir do momento em que se tem o corpo do outro enquanto semelhança e diferença.
Assim, relacionei no vídeo, takes que remetem ao primeiro toque entre a Viúva e Etevaldo, um momento do texto que acho extremamente sensível, com as ideias que já tinha sobre o olhar no espelho da Viúva. Dessa forma, penso que o segundo vídeo tem muito do do processo de descobrir o próprio corpo, descobrir o corpo do outro, descobrir um pouco de si no outro e um pouco do outro em si mesmo e descobrir o que acontece a partir desse encontro.
Desse modo, eu explorei um pouco mais a dualidade entre essa Viúva da realidade e a Viúva da imaginação, introduzindo novos movimentos e um trecho de improvisação. Também adiciono o toque no corpo de Etevaldo como parte do universo imagético/da memória em relação ao momento do beijo e do fogo tomando a casa, que acontecem, cronologicamente, imediatamente após o momento do olhar-se no espelho.
A música escolhida faz parte da biblioteca de áudios do Youtube e se chama “This is not effortless”. Minha escolha da música se dá pela melancolia e pelos ruídos que a atravessam.
Vídeo 3: Ensaios
https://drive.google.com/file/d/1W8sD-6tVdpWItHZjX2gMfg5Evzqq7kG1/view?usp=drivesdk
Vídeo 4: Versão final do vídeo
*painel imagético
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