Tarefa 8.2 Rodrigo
Entrevista editada
RODRIGO
Você disse que o esboço do texto já estava pronto. Então, como foi
a construção da movimentação em cima do texto?
PAULA
De alguma forma, o ponto de partida foi em termos de imagens. O tema vem desses textos que não existiam. Eu não tinha um texto organizado dramaticamente, eu não tinha um texto dramático. Possuía vários escritos poéticos que para mim estavam todos dentro de um mesmo universo. Vários desses escritos não entraram na cena. Meu trabalho com a Aline foi meio que organizando de tal forma que esse texto poderia entrar e a gente foi meio que mapeando também quais ações poderiam surgir a partir desse texto. Aquele véu dela veio como um elemento talvez de despersonalização, de tirar a identidade já que o rosto está muito atrelado a identidade, e deixar o corpo em evidência. Isso dialoga muito com as questões que estávamos conversando sobre desejo, sobre objetificação do corpo feminino, sobre sexualidade. Eu acho que foi muito natural nessa brincadeira dela com o véu, que veio realmente como um elemento intencional, trazer a brincadeira do véu como um elemento de….
RODRIGO
Quase ligação entre vocês duas...
PAULA
... exato, e tensão também. Um pouco de antagonismo, pra gente manter aquele jogo ele (o véu) precisava estar sempre esticado. Então a gente precisava estar sempre puxando, fazendo um contra peso. Mas a movimentação surgiu a partir da experimentação com o texto e extra texto. A gente estava conversando enquanto ensaiava e começamos a brincar com aquilo e percebemos que era potente. Nosso trabalho ali foi justamente de conseguir entrelaçar os dois. Eu considero que não conseguimos 100% porque ainda vamos continuar trabalhando na cena. Mas foi realmente conectar as duas linguagens. Quando nós brincávamos sem palavra só com o jogo de tensão com o lenço chegávamos em lugares muito interessantes, contudo ao mesmo tempo queríamos sobrepor aquele texto especificamente. O texto a priori era meu, falava sobre várias partes do meu corpo que de alguma forma dão pistas sobre a minha história como uma cicatriz , uma pinta, um dente quebrado, várias partes do meu corpo que dão pistas da minha história. Ela adicionou partes do corpo dela e vivências muito corporais que dão pistas da história dela, algumas em que convergíamos, que compartilhávamos e outras que não. Existiu um trabalho de memorização para conseguirmos aquela cadência de texto, uma fala a outra fala por cima enquanto nos movimentávamos. Nossa movimentação não tinha uma partitura, tinha esse principio de movimento em que estávamos sempre ali em relação com o pole e em relação uma a outra. O tecido tem que estar todo o tempo esticado e nossa fala tem que sempre vir atropelando uma da outra, como uma verborragia.
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